Esta oposição presente no poema entre o “exterior” e o “interior” remete para o “ser real” e o “ser imaginado”, respectivamente, que, quando interseccionados, culminam num todo, conjunto, denominado eu.
Este plano final é conhecido por todos nós, pois é a realidade do nosso ser, a nossa existência. Porém, vivemos numa sociedade onde julgamento e observação são uma constante. Desta forma, aquilo que apresentamos aos outros deveria, segundo a opinião e o “conselho” do sujeito poético, ser uma imagem tratada, com características semelhantes ao que nos é também apresentado. Mas o verdadeiro eu, aquilo que nos é inato, não pode ser assim cruelmente esquecido e censurado. Por mais que diferente e surpreendente que seja. Este íntimo de nós não necessita de ser exposto à sociedade. Por ser íntimo, poderá crescer dentro de nós, tal como é, tal como o imaginamos e só nós o conhecemos, o mais selvagem, mas também o mais real de nós.
Por isso, apesar deste “interior” e “exterior” serem tão divergentes e distintos, formam cada um de nós. Se nos concentrarmos apenas no lado “interior”, acabamos isolados e sujeitamo-nos à incompreensão e rejeição. Caso contrário, se podarmos o nosso jardim e inibirmos aqueles rasgos de sol serem detectados pelas ervas daninhas, não seremos nós, mas aquilo que pretendem que sejamos, o que deixará marcas, visto que cada erva daninha arrancada do nosso interior é mais um passo dado à exteriorização de mim e uma maior distância do meu verdadeiro conhecimento. O eu, será portanto uma sobreposição dos dois planos, dois extremos opostos que constituem um plano harmonioso e agradável à vista.
Inês Teotónio
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