domingo, 20 de março de 2011

3º Teste - Resposta à pergunta (1)

 A contradição apresentada nos primeiros dois versos do poema, em que o segundo verso é a total negação do primeiro, pode ser explicada pelo facto de o primeiro verso ser uma expressão da opinião geral exterior ao sujeito poético e uma conclusão retirada das características físicas e históricas do rio Tejo, enquanto que o segundo verso é a expressão da opinião própria do sujeito poético, que se baseia no fundamento de que o rio da aldeia dele é conhecido e ponderado por menos gente, e portanto é mais livre e "maior" e também porque dá menos que pensar. Olhar para o rio da aldeia dele é apenas olhar para o rio da aldeia dele, não são convocados pensamentos nenhuns, para além da realidade imediata.
 Conclui-se portanto que o autor considera o seu rio mais belo que o Tejo, pois não conduz à "dor de pensar", existe apenas sobre a forma pura da sua existência e é mais livre, pois pertence a menos gente. Sendo assim, a contradição inicial no poema, tem como função a exposição destes dois níveis de reflexão sobre os rios e os pensamentos.

João Féria nº14  

sábado, 19 de março de 2011

CONSELHO

Cerca de grandes muros quem te sonhas.
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.


Faze canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim como lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.


Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és —
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês...

Fernando Pessoa

XX - O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia

XX

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos

3ºTeste - resposta à pergunta 6 (3, grupo II)


A última estrofe do poema Conselho, demonstra a posição que Fernando Pessoa tem em relação à duplicidade que existe em cada ser humano. Sendo ele próprio um percursor deste conceito, incentiva o leitor a fazer de si um "ser duplo". Desmembrar a sua personalidade, ser uma extensão de si próprio, que por sua vez conduzirá à dispersão em relação ao real e a si mesmo.
Fernando Pessoa sente a sua identidade perdida, tendo a consciência do absurdo da sua existência. Por vezes, tem uma visão pessimista da sua vida, profetizando um futuro que só será carregado de presentes sucessivos de negatividade. Sendo possuidor desta alma "atormentada", Fernando Pessoa esconde este negativismo no lado interior da sua "cerca", um local onde ninguém pode aceder, atrás de um lado exterior, carregado de positivismo, de uma fachada, de um jardim tão belo que chega a obscurecer o seu lado interior revoltado e negativo. Tendo Fernando Pessoa esta capacidade de ser um "ser duplo", sem deixar de ser um, irá traduzir-se numa tentativa de aumentar a sua auto-consciência e assim alcançar a finalidade da sua arte.

Joana Sebastião nº7 12ºC

3º Teste - Resposta à pergunta 2 (grupo I)

O tejo é um rio que pertence aos Homens, à Humanidade. Todos o conhecem, todos pensam nele recorrendo a comparações e significações.
A simplicidade das coisas é algo que todos os homens têm dificuldade em aceitar principalmente no confronto com a Natureza. Ao pensarem, recorrem à essência das coisas, ás ideias subjacentes e fundadoras que estão por detrás delas, retirando-lhes o que nelas há de mais belo, a sua simplicidade e naturalidade. Ao pensarmos em Tejo, pensamos em grandes naus, caminhos por onde passa, lugares onde desagua, esquecendo-nos realmente do que realmente é o rio Tejo: simplesmente um rio. Já o "rio que corre pela minha aldeia" referido pelo sujeito poético, é um rio que apenas existe, simplesmente para ser admirado e nada mais. Se não formos mais longe que isso não será necessário pensar e recorrer a significações, conceitos complexos, que ocultam a visão da verdadeira natureza das coisas. O rio da aldeia simplesmente existe, é apenas rio. O rio Tejo é um rio dos Homens, daqueles que se iludem ao tentarem compreender a natureza, atribuindo-lhe significações inúteis.
O rio da aldeia torna-se assim o mais belo, livre e maior dos rios. Poucos o conhecem, a poucos pertence, não foi tocado pela Humanidade.

Joana Sebastião nº7 12ºC

sexta-feira, 18 de março de 2011

3º Teste (grupo II) resposta à Pergunta 2.1


Esta oposição presente no poema entre o “exterior” e o “interior” remete para o “ser real” e o “ser imaginado”, respectivamente, que, quando interseccionados, culminam num todo, conjunto, denominado eu.
Este plano final é conhecido por todos nós, pois é a realidade do nosso ser, a nossa existência. Porém, vivemos numa sociedade onde julgamento e observação são uma constante. Desta forma, aquilo que apresentamos aos outros deveria, segundo a opinião e o “conselho” do sujeito poético, ser uma imagem tratada, com características semelhantes ao que nos é também apresentado. Mas o verdadeiro eu, aquilo que nos é inato, não pode ser assim cruelmente esquecido e censurado. Por mais que diferente e surpreendente que seja. Este íntimo de nós não necessita de ser exposto à sociedade. Por ser íntimo, poderá crescer dentro de nós, tal como é, tal como o imaginamos e só nós o conhecemos, o mais selvagem, mas também o mais real de nós.
Por isso, apesar deste “interior” e “exterior” serem tão divergentes e distintos, formam cada um de nós. Se nos concentrarmos apenas no lado “interior”, acabamos isolados e sujeitamo-nos à incompreensão e rejeição. Caso contrário, se podarmos o nosso jardim e inibirmos aqueles rasgos de sol serem detectados pelas ervas daninhas, não seremos nós, mas aquilo que pretendem que sejamos, o que deixará marcas, visto que cada erva daninha arrancada do nosso interior é mais um passo dado à exteriorização de mim e uma maior distância do meu verdadeiro conhecimento. O eu, será portanto uma sobreposição dos dois planos, dois extremos opostos que constituem um plano harmonioso e agradável à vista.

Inês Teotónio

3º Teste (grupo II) resposta à Pergunta 1

A palavra de abertura deste poema é “cerca”. No contexto, esta palavra realmente parece incluir uma instrução, mas não uma instrução obrigatória. Será mais um conselho, uma opinião pessoal que oferecemos aos outros relativamente ao melhor modo de agir numa determinada situação. Por isso, se compararmos este poema a uma “receita de vida”, ou melhor, uma “receita de identidade ou autoconstrução”, veremos que faz realmente sentido que cada palavra que inicia uma estrofe inclua a marca de uma “instrução”. Tal como numa receita e num conselho, explicamos a outrem, neste caso o leitor, cada passo como se fosse uma indicação, que na verdade, se traduz apenas na nossa opinião, que será seguida ou não pelo ouvinte.
Por outro lado, além de um comentário, poderá ser também uma reflexão, visto que Fernando Pessoa foi um ser duplo, fragmentado. Uma reflexão sobre o que foi durante toda a vida – semelhante às inscrições a colocar numa campa. Uma reflexão de vida, pois todos temos uma história, e, com essa história que encontramo-nos aptos para aconselhar os outros ou escrever uma receita de vida, com instruções.

Inês Teotónio