O rio Tejo parte de Espanha e desagua em Portugal, abre-nos as portas para o mundo e constrói-nos o início da viagem para o lado oposto do oceano - a América. Porém, em relação ao outro rio de que fala o poema, sabe-se que atravessa a aldeia do sujeito poético e que nada mais se sabe sobre ele, nem onde "nasce" nem onde "desfalece". É um rio que pouca gente conhece e mesmo aqueles que o conhecem nada conhecem realmente porqueo rio daquela aldeia "não faz pensar em nada".
É dito, ainda, que este rio que ninguém conhece e que pertence a pouca gente "é mais livre e maior" do que o Tejo, o qual é amplamente conhecido e pertence a muitas mais pessoas, desde as espanholas às portuguesas.
Sabemos que Alberto Caeiro é um poeta sensacionista que acredita que toda a verdade reside nas sensações e que o pensamento é uma grande farsa. O pensamento existe apenas para destruir a verdadeira essência das coisas uma vez que a reflexão sobre elas induz uma interpretação pessoal. Esta interpretação é algo que não é visível e é algo que recorre à fusão do real com a imaginação. Como o pensamento não é mais do que o fruto da nossa imaginação, a única conclusão que podemos tirar de tudo isto é que a realidade corresponde somente àquilo que captamos através das nossas sensações.
Ainda para mais, pode ser dito que "pensar" é um acto de "auto-emprisionamento", ou seja, o pensamento restringe-nos à interpretação que fazemos das coisas e prende-nos na dimensão da farsa que criámos. Somos impedidos de ser livres e de dar liberdade às coisas sujeitas à nossa reflexão. Por essa razão, o rio que atravessa a aldeia, no qual não reside pensamento algum, "é mais livre e maior" do que o rio Tejo.
Jéssica King, nº12
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