quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Síntese do capítulo IV de Memorial do Convento

Neste capitulo há a apresentação de um novo personagem: Baltasar, o “Sete-Sóis”
Baltasar Mateus, é um homem de 26 anos, mais conhecido como "o Sete-Sóis". É um excluído da guerra, por perder a sua mão esquerda numa batalha contra Espanha na chamada Guerra da Sucessão (1704-1712). Regressado a Portugal, Baltasar pelas poucas economias que tinha guardado no seu tempo enquanto soldado, torna-se um mendigo, e vive de esmolas em Évora. No entanto nesta época, o Alentejo era uma zona muito pobre onde se vivia na miséria, e Baltasar ao ficar a saber que o exército já não vinha ajudar esta província decide partir para Lisboa.
Com o dinheiro proveniente da esmola, Baltasar consegue pagar um gancho e um espigão de ferro, que encomendara a um ferreiro. O gancho, para lhe substituir as funcionalidades da mão amputada e o espigão servia-lhe como arma de defesa. Baltasar pouco os utilizava, primeiro porque se apercebia que recebia menos esmola e segundo por sofrer da chamada dor do membro fantasma, em que o indivíduo amputado sente dor ou comichão no membro que já não tem. No entanto na sua viagem para Lisboa, vai dar uso ao seu espigão, ao matar um homem de dois que o tentaram roubar.
Baltasar na sua viagem passa por Montemor, Pegões e em Aldegalega apanha uma embarcação que o irá levar a directamente a Lisboa. Chegado a Lisboa, encontra-se num dilema, não sabe se regressa a Mafra onde tem família e onde pode trabalhar, ou se fica em Lisboa a viver á custa de esmolas. Enquanto não se decide vagueia pelas ruas da capital passando pelo mercado do peixe, pelo palácio do rei (que se encontra fora a caçar em Azeitão com os seus irmãos infantes), pelo Terreiro do Paço e pela igreja da Nossa senhora da Oliveira onde assiste a uma missa. Nesse mesmo dia Baltasar conhece João Elvas, que também fora soldado, com quem passa a noite junto de outros mendigos num telheiro abandonado. Antes de dormirem ambos contam histórias de assassinatos que ocorreram na cidade, como o homicídio de uma mulher cometido pelo seu marido adúltero, ou o esquartejamento de um jovem rapariga cujos pedaços do corpo foram espalhados pela cidade. A estas mortes os ex-soldados compararam com as que presenciaram na guerra.

O narrador neste capítulo destaca, entre outros eixos temáticos, o abuso do poder e a exploração dos mais humildes. Esta perspectiva revela, pois, o olhar comprometido do narrador perante a vida e as desigualdades sociais. É criticada também a guerra: desumana e absurda, vitima homens em nome de um interesse que lhes é completamente desconhecido e abandona-os à sua sorte quando doentes.

Joana Sebastião nº7 12ºC

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Síntese do Capítulo VIII da obra Memorial do Convento

Baltasar e Blimunda vivem uma relação amorosa já á quase um ano. São um casal que vive numa comunhão mas fora da moral da época, infringindo as regras da sociedade. Isto é, a sua união é ilegítima pois não fora sacramentada pela igreja.
Baltasar questionava Blimunda e o padre Bartolomeu Lourenço porque comia ela pão todas as manhãs antes de abrir os olhos. Mas recebia como resposta que era um hábito que trazia desde criança.
Uma manhã, Baltasar esconde o pão a Blimunda e diz-lhe que só lho devolve se ela lhe contar o seu mistério. Ela implora e tapa os olhos com os punhos. Quando Baltasar tenta desviar as suas mãos, ela diz que lhe revela o segredo depois de comer o pão. E assim foi. Depois da pequena refeição tomada Blimunda diz que tem o dom de, em jejum, ver as pessoas por dentro. Porém este dom desaparecia sempre que o quarto da lua mudava. Sete - Sóis não acredita no que ouve e então combinam que no dia seguinte Blimunda não comeria, ambos sairiam á rua, e ela lhe diria o que via. No dia seguinte Blimunda não comeu duas refeições para apurar a vista e saíram de casa. Baltasar atrás e Blimunda á frente, para que não o pudesse ver, pois prometera que nunca o faria. Passeiam os dois e Blimunda mostra o seu segredo. Viu dentro dos corpos, por detrás da pele e da roupa, dentro da terra. Para Sete – Sóis eram coisas tristes de se verem, mas como ele não vê, só olha, não sabe como acreditar em tudo o que ela dizia. Para o provar, Blimunda diz-lhe que faça um buraco na terra e que retire dali uma moeda. Baltasar escavou e foi o que aconteceu.
Neste capítulo o narrador faz uma crítica ao povo português que é motivo de gozo por parte dos outros países. Por exemplo quando se diz que “os marinheiros vão para o mar descobrir a índia descoberta ou o Brasil encontrado” (ou seja, não vão fazer nada de especial) e que o infante D. Francisco dispara sobre os eles apenas para mostrar a sua boa pontaria. Desta forma, o narrador ironiza afirmando que é melhor para estes marinheiros serem feridos logo na sua terra e pelos seus superiores, que longe e pelos inimigos franceses. São também criticados os portugueses que se encontram no Rio de Janeiro, que por estarem a dormir, deram pouco trabalho aos franceses. Estes pareciam estar nas suas próprias terras: venderam na praça tudo o que tinham roubado e o que não faltou foram portugueses, mesmo sendo mais em quantidade, pagaram para recuperar o que era seu. O narrador dá como certo haver traidores entre os portugueses, mas justifica este facto pela forma como os nossos soldados eram mal tratados.
Outro exemplo de ironia, que o narrador utiliza para criticar a nossa sociedade está presente na passagem “..consideremos o caso das 30 naus francesas…, que é perto” e “e agora veio-se a saber.. galhofas estrangeiras”.
Para além dos militares também a igreja é criticada com o caso de um clérigo que gostava especialmente da companhia das mulheres e das suas camas, para satisfazer o seu prazer. Neste capítulo está descrita a sua fuga do clérigo dos oficiais e agarradores. Mais uma vez podemos ver a descrição crua que o narrador faz, pois o clérigo teve que fugir da casa onde estava tal como estava, ou seja, tal como veio ao mundo, sendo motivo de gozo para todos os que o viram passar pela rua e entrar assim na igreja. Este clérigo é descrito como pugilista (pois bateu nos quadrilheiros pretos) e como garanhão (por apreciar da presença feminina), isto é, coisas impróprias da sua classe social.
Mais uma vez conseguimos ver as diferenças entre as classes sociais. O encontro entre o cardeal D. Nuno da Cunha e o rei é descrito com muito pormenor, riqueza e excessos. O cardeal vai receber o “chapéu” ou “barrete” pelas mãos do rei. Através destas expressões (chapéu e barrete) e da descrição feita podemos ver o desdém que o narrador sente por toda esta riqueza.
Ao contrário desta vida das classes altas, os pobres, como Baltasar, acostumam-se á sua vida. “…mas lá estão os caldos da portaria… este povo habitou-se a viver com pouco”.
Por fim nasce o segundo filho do rei e da rainha, cujo nascimento tinha sido previsto por Blimunda e o capítulo termina com a deslocação do rei a Mafra para escolher onde será construído o convento. Num alto chamado de Vela.


Inês Teotónio
nº11

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sintese do 1º capítulo do livro: “Felizmente há luar” de Luis Sttau Monteiro

·         Luís Infante Lacerda de Sttau Monteiro nasceu a 3 de abril de 1926, licenciou-se em direito na Faculdade de Lisboa, mais tarde tornou-se jornalista e escritor chegando mesmo a ser preso pela PIDE. Faleceu a 1993; 
·         Peça de teatro em 2 Actos;
·         Inspiração no livro de Raul Brandão «1817»;
·         O título «Felizmente Há Luar!» é a última fala da personagem Matilde. Foi escolhido por simbolizar a esperança no fim do salazarismo. O luar é o símbolo da nova luz que vem substituir a total escuridão na qual Portugal viveu durante tantos anos;
·         A publicação da obra foi feita em 1961 mas foi censorada pela PIDE;
·         Em 1974, depois da revoluçao dos cravos, foi novamente colocada nas livrarias
·         E finalmente foi representada no Teatro Nacional em 1978, pelos actores Varela Silva e Eunice Munõz;
·         O objectivo do autor foi criar uma obra de denúncia social, política e religiosa.
·         Faz um paralelismo entre o tempo histórico em que se passa a acção (antigo regime absolutista) e o tempo em que foi escrita (regime salazarista). Nesta comparação entre épocas encontram-se idênticas instituições da sociedade portuguesa, p.ex., entre a PIDE e a Junta Provisória;
·         Personagem principal é o general Gomes Freire. O autor nutria por ele uma grande admiração e o considerava uma das mais importantes e expressivas personagens da história de Portugal;
·         Acção do teatro passa-se em Lisboa no ano de 1817, dia 18 de Outubro;
·         Os ingleses vivem em Portugal;
·         A realeza zarpou para o Brasil;
·         Como substituição da realeza foi criada a Junta Provisória;
·         O Acto I começa com uma conversa entre Manuel, Rita, o Antigo Soldado, os Populares e uma Velha. O tema é o general Gomes Freire. Consideram-no um herói e a única pessoa que os pode libertar do sofrimento e da opressão;
·         Ainda no 1º Acto, as 5 personagens (Andrade Corvo, Morais Sarmento, Vicente e dois policias querem incriminar o general pois sabem que este era o único que lhes podia tirar o poder e as regalias. Então decidem usá-lo como bode expiatório da revolução iminente;
·         No fim do Acto I estes juntam-se a D. Miguel e a Beresford para o prender, julgar e executar.

Alexandre gomes nº1 12ºC

sábado, 4 de dezembro de 2010

Antropofagias

Texto 6

Não se esqueçam de uma energia bruta e de uma certa/
maneira delicada de colocá-la no «espaço»/
ponham-na a andar a correr a saber/
sobre linhas curvas e linhas rectas «fulminantes»/
ponham-na sobre patins com o stique e a bola como/
«ponto de referência» ou como «pretexto espaço-tempo»/
para aplicação da «dança»/
experimentem uma ou duas vezes ou três reter determinada/
«imagem» e metam-na «para dentro» assim imóvel/
e fiquem parados «aí» com a imagem parada talvez brilhando/
é qualquer coisa como uma sagrada suspensão/
e abrindo os olhos então o jogo retoma a imagem/
que entretanto ficou incrustada no escuro a brilhar sempre/
e dela «parece» que o movimento parte de novo/
é uma «linguagem» e energia e delicadeza atravessam o ar/
espectáculo do «verbo primeiro e último» apanhem a figura «absoluta»/
do pé esquerdo o patim refulge a mão direita «prolonga-se»/
vamos achar bem que o stique seja a «respiração»/
extrema e extensa/
a bola põe-se a «caligrafar» todo um sistema de planos/
intensos leves/
«metáfora» decerto minuto a minuto destruída pela pergunta/
«que jogo é este para o entendimento dos olhos?»/
a resposta «alegria» tudo esgota/
mas só um sentimento de urgência corporal dá ao jogo/
uma «necessária dimensão»/
«o jogo respira?» perguntam  e diz-se «que respira»/
«então deixem-no lá viver» como se se tratasse de/
«uma criatura»/
podemos confundir «isto» com «acertar»?/
o jogo apenas acerta consigo mesmo e este acerto é o próprio/
«jogo»/
nele ressaltam só qualidades de acção força delicadeza/
envolvimento emsi mesmo/
e o prazer de maquinar o universo numa restrita/
organização de linhas vividas em «imanência»/
de imagem em imagem se transfere o corpo/
sempre à beira de «ser» e parando e continuando/
e ainda «apagando e recomeçando» como se continuamente/
bebesse de si e tivesse o ar pequeno para demonstrar/
a grandeza de si a si mesmo/
«referido a quê senão ao absurdo de um espelho?»/
«a enviar-se» cerradamente entre os seus limites/
zona frequentada pela «ausência viva»/
destreza porque sim forma porque sim aplicação porque sim/
de tudo em tudo/
de nada em nada pelo gozo «básico» de «estar a ser» 

Herberto Helder, Antropofagias

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Hermes


Hermes

«O gesto era branco, o sorriso era como era, a voz era igual, lançada num tom de quem não procura senão dizer o que está dizendo - nem alta nem baixa, clara, livre de intenções, de hesitações, de timidezas. O olhar azul não sabia deixar de fitar. Se a nossa observação estranhava qualquer cousa, encontrava-a: a testa, sem ser alta, era poderosamente branca. Repito: era pela sua brancura, que parecia maior que a da cara pálida, que tinha majestade. As mãos um pouco delgadas, mas não muito; a palma era larga. A expressão da boca, a última cousa em que se reparava - como se falar fôsse, para este homem, menos que existir -, era a de um sorriso como o que se atribui em verso ás cousas inanimadas belas, só porque nos agradam - flôres, campos largos, aguas com sol -, um sorriso de existir, e não de nos falar.»

Álvaro de Campos, "Notas para a Recordação do Meu Mestre Caeiro"